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INTERROGAÇÃO. Poema de Therezinha Mello, no livro Conversa de bordadeiras




Recusei-me a varrer o chão naquela tarde.


Olhei fixamente os fios coloridos,


curtos, aleatórios,


e decidi que não.


Todas as vezes que o risco do bordado


exigia mudança de cor,


fazia sobrar algum pedaço de linha.


Pequeno demais, insuficiente, inútil.


Flutuavam ao fim do dia no assoalho,


em resposta a qualquer movimento.


Voavam sem rumo certo.


Caíam, aqui e ali. 


E o que era cada fiapo de linha?


Que era então que, já não sendo inteiro,


mesmo sem função e já sem nenhum propósito,


não desaparecia de todo? 


E quem era eu, a bordadeira? 


Quem era então que, voando em meus cismares,


- bastidor e coração pousados sobre a mesa -


deixava-me estar ali, observando fios coloridos 


e sem nenhuma vontade de varrer a sala?


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Sobre a autora:


Therezinha Mello nasceu na cidade de Resende (RJ), em maio de 1957. Formada em Português e Literatura pela UERJ, está hoje à frente da Capitolina Edições, editora voltada para novos escritores, especialmente no gênero Memórias.

Principais publicações:

Jorge da Capadócia, o menino guerreiro - Infantil - Menção Honrosa UBE RJ em 2014.

Seis tempos - histórias curtas e poemas prólogo - Contos - 1o. lugar UBE RJ - 2011.

Cantilena de mulher - Poesia - 2015

Meu pai, memórias poeticas - Memorias - 2022

Machadinho, o menino das letras - Infantil - 2o. lugar UBE - 2022.

Conversa de bordadeiras - Poesia - 2023



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